No dia 17 de setembro de 2020, dia Nossa Senhora de Pentecostes e de Santa Hildegarda, a SBCC promoveu uma vigília oracional on-line com uma benção especial aos cientistas e pesquisadores na luta contra a Covid-19, a qual foi conduzida por Dom João Justino de Medeiros Silva, arcebispo de Montes Claros (MG), presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da CNBB e membro do comitê Teológico-Pastoral da SBCC. O evento, que iniciou às 20h, foi transmitido pelos canais da SBCC e da Cultura e Educação da CNBB no Youtube e, contou com a participação de diversos sócios e outras pessoas interessadas pelo tema.
Em sua pregação, baseada no Evangelho de São Lucas, capítulo 11, versículos 9-13, Dom Justino iniciou agradecendo aos profissionais da saúde que tem se desdobrado neste tempo e aos cientistas que também tem se doado na busca por uma vacina, enfatizando que:
“É preciso coragem de quebrar barreiras e fincar estacas para alargar as tendas e não deixar ninguém sem os cuidados e atendimentos necessários.”
Ainda com relação a todos os desafios que esta pandemia nos trouxe e diante de uma sociedade que “cultua o conforto como objetivo de vida”, Dom João Justino afirmou:
“…a pandemia pode se tornar um estranha aliada para despertar-nos a favor do resgate da espiritualidade cristã da vulnerabilidade. (…) Para os cristãos, não há outro caminho senão amar como Jesus amou e abraçar a sua cruz e com ela os crucificados.”
Diante da memória litúrgica de Santa Hildegarda de Bingem (1098-1179), abadessa beneditina, grande mística alemã, profetisa, médica e musicista, declarada doutora da Igreja, clamou a sua intercessão:
“Sob a proteção de Santa Hildegarda, estamos em oração pelos cientistas que, incansavelmente, se dedicam às atividades da pesquisa. Eles não estão sozinhos. Há um número incontável de pessoas que, como num estádio de futebol, torcem para que sejam exitosos na tarefa de detectar todo conhecimento sobre o novo coronavírus e de criarem a esperada vacina.”
Afirmou, ainda, que os cientistas neste tempo não estão sozinhos, eles têm se unido para juntos descobrirem a solução para conter este vírus, “mas sobretudo não estão sozinhos porque neles age o Espírito Santo de Deus”.
“Como um cientista e pesquisador católico se esqueceria que ele foi ungido no crisma e recebeu os sete dons do Espírito Santo? O Espírito Santo não opera como magia, mas como fortaleza para que que a inteligência humana progrida a serviço da vida.”
Ao final de sua reflexão, deixou uma mensagem a todos os cientistas:
“Cientistas e pesquisadores, lembrem-se de que a ciência é para vocês o lugar para o qual o Senhor os enviou para ali serem sal da terra e luz do mundo. Suas atitudes éticas estejam ancoradas no evangelho da vida que não é outro senão o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus.”
Na conclusão de sua reflexão, Dom João Justino deixou uma mensagem de fé e esperança a todos nós:
“Diante da pandemia provocada pelo novo coronavírus, não há razões para nenhum desespero, desânimo ou desencorajamento. Na perspectiva da fé, Cristo sofre conosco esse momento. (…) Jesus Cristo, Verbo encarnado, conheceu o sofrimento humano a partir de dentro e se faz nosso companheiro na estrada escura pela qual estamos passando. Ele é o bom pastor. Quando parece tudo faltar, ali está com o seu cajado a nos sustentar. Não há, pois, o que temer. Há que se oferecer o melhor de nós para o bem das pessoas. Há que ser criativamente solidário. E isso é viver de modo pascal. Crer que a vida é sempre mais forte que a morte. Que o amor sobrevive à morte.”
Em seguida, foram proferidas preces em prol dos cientistas e pesquisadores empenhados na luta contra a Covid-19, bem como em prol da sociedade em geral, que tem sofrido os males dessa doença.
Ao final, após um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento, Dom João Justino concedeu a benção a todos os cientistas e profissionais que estão na luta contra a Covid-19.
Para Everthon Oliveira, presidente da SBCC, o evento foi um momento único de comunhão, espiritualidade e testemunho para a SBCC e reafirma seus propósitos. As palavras e orações de Dom João Justino nos trouxeram ânimo e conforto neste momento em que nossas limitações são postas à prova. A benção sobre todos os pesquisadores nos recorda que, de um ou outro modo, é de Deus que virá sempre nosso socorro.
A benção especial foi gravada e está disponível nos links <https://www.youtube.com/watch?v=QuXHB1VnJ2U> e <https://www.youtube.com/watch?v=jTJzyBuwP9Q>
Fonte: Equipe de Intercessão da SBCC
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*Confira na íntegra a homilia de Dom João Justino de Medeiros Silva na Vigília de Orações pelos Cientistas e Pesquisadores na luta contra a COVID-19
Vigília de Orações pelos Cientistas e Pesquisadores na luta contra a COVID-19
Homilia de Dom João Justino de Medeiros Silva (17.09.2020)
Nesta data, o Brasil já sepultou mais de 130 mil pessoas que perderam a vida para a COVID-19. Todo esforço, de cada um de nós, para evitar a contaminação é um gesto de amor à vida e à fraternidade. É gratificante reconhecer a solidariedade de um número incontável de pessoas em favor dos mais necessitados. Superam-se divisões pela generosidade que aponta a partilha como expressão do bom coração do povo brasileiro. A hora pede a união e a benevolência de todos. Sejamos muito agradecidos aos profissionais da saúde que têm se desdobrado no atendimento de infectados, cuidando, especialmente, dos que estão gravemente enfermos nos leitos das UTIs. Igualmente sejamos agradecidos a todos os cientistas e pesquisadores que abraçaram a causa do exaustivo trabalho em busca da vacina. Todos desejamos que os gestores públicos tenham lucidez e responsabilidade em cada decisão. É preciso coragem de quebrar barreiras e fincar estacas para alargar as tendas e não deixar ninguém sem os cuidados e atendimentos necessários. Há sempre algum gesto ao alcance de nossas mãos, quando alimentamos a bondade no coração para fazer o bem. Como o apóstolo Paulo, nós exortamos: “Não nos cansemos de fazer o bem” (Gal 6,9).
A pandemia chegou inesperadamente. Trouxe dor e morte e expôs as vulnerabilidades da humanidade. Colocou-nos diante da vulnerabilidade da vida humana. Mais uma vez um grito silencioso adverte: vós, homens, podeis muito, mas não podeis tudo. A medicina, superespecializada em inúmeros procedimentos para salvar vidas e restituir a qualidade delas, depara-se com um novo inimigo cuja força de letalidade é alta e, inclusive, ceifa a vida de muitos profissionais da saúde. Todos, diante desse cenário, são remetidos a um silêncio interior, causado não apenas pelo isolamento social, mas também pela angústia de reconhecer que mesmo não pertencendo aos grupos de riscos, são vulneráveis.
Numa sociedade que exalta o sucesso a todo custo, que elege o luxo como expressão do belo, que gasta quantias milionárias em esportes caríssimos, que cultua o conforto como objetivo de vida, que cria todos os dias sonhos de consumo, a pandemia pode se tornar um estranha aliada para despertar-nos a favor do resgate da espiritualidade cristã da vulnerabilidade.
Jesus apontou que o essencial está no amor e, por isso, seu mandamento novo é a ordem de amar como ele amou, isto é, entregando a própria vida, derramando-a cotidianamente em favor da vida ameaçada e ferida. Para os cristãos, não há outro caminho senão amar como Jesus amou e abraçar a sua cruz e com ela os crucificados. Para isso é necessário purificar o olhar, a mente e o coração das visões de um Deus cujo poder se confunde com as forças deste mundo. Como Jesus, é preciso viver a “kenosis”, isto é, o esvaziamento, o despojamento para dar espaço ao verdadeiro amor que será sempre vulnerável. Os místicos e os profetas compreenderam bem isso. Eles encontraram nas chagas de Jesus crucificado a expressão de um Deus ferido de amor, de um Deus vulnerável. E é esta a força revolucionária da fé cristã.
Nesta noite, daqui da Igreja Nossa Senhora da Conceição e São José, conhecida como Igreja Matriz de Montes Claros, outrora catedral, estamos em oração pelos cientistas e pesquisadores que lutam contra a COVID-19. A Sociedade Brasileira dos Cientistas Católicos escolheu celebrar esse momento na data de hoje quando se celebra a memória litúrgica de Santa Hildegarda de Bingem (1098-1179), abadessa beneditina, grande mística alemã, profetisa, médica e musicista, declarada doutora da Igreja.
Dela, disse o papa Bento XVI: “Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos mosteiros femininos da Idade Média, contrariamente aos preconceitos que ainda pesam sobre aquela época. Hildegarda ocupou-se de medicina e de ciências naturais, inclusive de música, sendo dotada de talento artístico. Compôs hinos, antífonas e cânticos, que foram reunidos sob o título Symphonia Harmoniae Caelestium Revelationum (Sinfonia da harmonia das revelações celestiais), que eram executados jubilosamente nos seus mosteiros, difundindo uma atmosfera de serenidade, e que chegaram até nós. Para ela, toda a criação é uma sinfonia do Espírito Santo, que é alegria e júbilo em si mesmo”.
Sob a proteção de Santa Hildegarda, estamos em oração pelos cientistas que, incansavelmente, se dedicam às atividades da pesquisa. Eles não estão sozinhos. Há um número incontável de pessoas que, como num estádio de futebol, torcem para que sejam exitosos na tarefa de detectar todo conhecimento sobre o novo coronavírus e de criarem a esperada vacina. Eles não trabalham sozinhos. Quase sempre estão em equipes e compartilham suas observações gerando redes de conhecimento. Esse terrível vírus produz, paradoxalmente, alguns bons efeitos: um deles é o de reunir e agregar pesquisadores que humildemente reconhecem que os louros das conquistas não podem ser atribuídos a um só.
Mas sobretudo não estão sozinhos porque neles age o Espírito Santo de Deus. Como um cientista e pesquisador católico se esqueceria que ele foi ungido na crisma e recebeu os sete dons do Espírito Santo? O Espírito Santo não opera como magia, mas como fortaleza para que que a inteligência humana progrida a serviço da vida. Receberam o dom da sabedoria e da ciência. Todos os dons do Espírito Santo nos colocam em profunda comunhão com o mistério de Deus Uno e Trino e, ao mesmo tempo, nos remetem ao encontro de nossos irmãos para construir por inúmeras estradas a fraternidade do Reino. Sustenta-nos a fé nas promessas de Jesus. Como ouvimos do evangelho proclamado: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem” (Lc 11,13).
Cientistas e pesquisadores descobrem e criam recursos incríveis e inimagináveis para salvar vidas, aumentar a produção de alimentos e produtos, facilitar sempre mais a comunicação e os transportes. Esses exemplos podem ser seguidos de uma lista incalculável de maravilhas produzidas pela razão humana. Ainda assim, a humanidade perde todas as vezes que alguém cede à corrupção e à violência, ao descaso com as pessoas e à monetarização das relações, terríveis males que se alastram e consomem vidas. Infelizmente, esses males também podem atingir a ciência e comprometer os seus fins. Cientistas e pesquisadores, lembrem-se de que a ciência é para vocês o lugar para o qual o Senhor os enviou para ali serem sal da terra e luz do mundo. Suas atitudes éticas estejam ancoradas no evangelho da vida que não é outro senão o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus.
Diante da pandemia provocada pelo novo coronavírus, não há razões para nenhum desespero, desânimo ou desencorajamento. Na perspectiva da fé, Cristo sofre conosco esse momento. Em cada infectado e enfermo ele se faz presente: “Estava enfermo e cuidastes de mim…” (Mt 25,36). Mas está presente também em cada um que cuida, que visita, que atende, que escuta, que dá de comer, que consola… ou seja em cada expressão de amor, de solidariedade e de fraternidade, em cada pessoa que assumiu o estilo de vida do bom samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). Jesus Cristo, Verbo encarnado, conheceu o sofrimento humano a partir de dentro e se faz nosso companheiro na estrada escura pela qual estamos passando. Ele é o bom pastor. Quando parece tudo faltar, ali está com o seu cajado a nos sustentar. Não há, pois, o que temer. Há que se oferecer o melhor de nós para o bem das pessoas. Há que ser criativamente solidário. E isso é viver de modo pascal. Crer que a vida é sempre mais forte que a morte. Que o amor sobrevive à morte.